Em minha trajetória de biógrafo, escrevo agora meu 32º livro, convivi com alguns dos principais empresário brasileiros e conheci de perto os processos sucessórios de suas empresas.
Dentre os livros que escrevi, relato alguns dos meus biografados que viveram o processo de sucessão. Começo pelo empresário Julio Simões, que destinou ao filho mais novo, Fernando, a missão de comandar a então empresa Julio Simões, hoje conhecida por Grupo JSL e que está sob o “guarda-chuva” da Holding Simpar. Há anos, Fernando, vem fazendo um trabalho exemplar e multiplicou por várias vezes o tamanho da empresa e do faturamento, antevendo uma situação de mercado: “Se ficarmos só como transportadora, não vamos longe. Precisamos ampliar nosso leque de serviços” – o que realmente veio a acontecer, transformando a empresa numa companhia de ampla atuação e solução de “problemas” dos seus clientes. Aliás, a JSL tem um slogan que eu gosto muito: “Entender para atender”!
Destaco também o educador Richard Hugh Fisk, o Mr. Fisk, das Escolas de Idiomas Fisk e PBF. Sem herdeiros diretos, ou mesmo parentes que se interessassem, atuassem ou tivessem capacidade de tocar o negócio, Mr. Fisk, na busca de preservar franqueados e colaboradores, transformou a empresa na Fundação Richard Hugh Fisk. Igualmente, o escolhido para comandar a empresa, Bruno Caravati, deu “musculatura” à Fundação e aos seus negócios, tornando-a uma das líderes do segmento.
Algumas sucessões das empresas dos meus biografados foram naturais e recaíram sobre os filhos mais velhos, que demonstraram capacidade para tal. Cito O empresário Samuel Klein, da Casas Bahia, sucedido por Michael Klein, e Vicencio Paulo, fundador do Grupo Vipal, que teve em Arlindo Paludo seu novo comandante para a empresa.
No caso do Grupo CRM, presidido pelo empresário Celso Ricardo de Moraes e detentor das marcas Kopenhagen, Chocolates Brasil Cacau, Kop Koffee e da joint venture com a Lindt, para a operação da empresa suíça no Brasil, digamos que o “tiro” foi certeiro! Celso tem apenas uma filha, Renata Moraes Vicchi, executiva que desde os 16 anos iniciou na empresa e que há alguns anos por meritocracia é a CEO e a responsável pelo comando executivo do Grupo.
Também entre os meus biografados, o empresário Armindo Dias, que por décadas foi proprietário da Biscoitos Triunfo e em 1996 vendeu a empresa e migrou para a área de hotelaria, não teve dificuldades em definir o filho Antonio, executivo moderno e bem preparado, como seu sucessor no Grupo Arcel, que detém uma rede de Hotéis e Resorts, entre eles, os da bandeira Royal Palm Plaza.
Ainda entre os meus biografados, há quem preferiu negociar a empresa a promover o processo de sucessão, motivado também por conflito familiar. É o caso do doutor João Uchôa Cavalcanti Netto, fundador da Universidade Estácio de Sá e que chegou a liderar o segmento nos anos 2000. Nas mãos dele a empresa saiu da filantropia, se transformou em uma S.A., teve parte (20%) negociada com uma empresa de private equity, promoveu IPO (Initial Public Offering ouOferta Pública Inicial)e, com alta valorização na bolsa, o doutor João vendeu o restante das suas ações por um excelente valor!
Destaco ainda o doutor Affonso Brandão Hennel, fundador da Semp Toshiba e da Semp TCL. Em 1996, o doutor Affonso concretizou a sucessão para um dos seus filhos, Afonso Antonio, executivo de grande valor que havia comandado a fábrica de Manaus, apostou num marketing agressivo e fez jus à oportunidade de presidir a empresa. Pois assim aconteceu até 2013, quando, após alguns anos da economia do país em crise e de resultados insatisfatórios, aos 84 anos o doutor Affonso reassumiu o comando da companhia. Os resultados voltaram a ser satisfatórios e, como a Toshiba apresentava dificuldades internas e desinteresse pelo core business da companhia, televisores, ele encerrou a joint venture com a japonesa Toshiba e iniciou com a Chinesa TCL, que está entre as primeiras no ranking mundial na produção e comercialização de eletroeletrônicos e eletroportáteis. Depois de tudo estar em ordem, o doutor Affonso Brandão Hennel fez nova composição acionária na companhia, ficando com 20% das ações e a TCL com 80%, e hoje, aos 91 anos, é presidente do Conselho de Administração da companhia e tem seu neto, Felipe Hennel Fay, entre os principais executivos da organização.
Existem muitos outros casos interessantes entre os cases de sucessão nos livros que escrevi, mas entendo que a decisão tomada pelo empresário Mário Gazin, assim como seus irmãos e sócios, foi a mais difícil. Primeiro, por não ter ninguém da família pronto e preparado para assumir a presidência executiva da empresa, o que levou à escolha de um profissional com anos de casa, Osmar Della Valentina, e com resultados expressivos apresentados em sua trajetória na companhia. E depois, pela maturidade de saber se desapegar do cargo e do negócio, mantendo-se na presidência do Conselho de Administração e dando ao seu sucessor, Osmar Della Valentina, carta branca para comandar, agir, mudar, transformar e ser aprovado pelos resultados positivos alcançados.
Então, para finalizar, se você é fundador ou possível sucessor de uma empresa, saiba que “sua hora vai chegar”, a da sucessão. E se você está entre os herdeiros, torça para que o processo seja feito no timing certo e que seja literalmente bem sucedido!
Elias Awad
Escritor, Biógrafo e Palestrante
[email protected]
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