Estamos no epicentro do maior experimento de trabalho remoto da história. Ferramentas que permitem comunicar e colaborar digitalmente, como Slack, Zoom e Dropbox, são os pilares de um regime de home office sem precedentes. Basta olhar para o crescimento explosivo da ferramenta de videoconferência Zoom (o aplicativo foi baixado 343.000 vezes em apenas um dia), que passou de um IPO de US $ 9 bilhões, há menos de um ano, para um impressionante pico de capitalização de mercado de US $ 44 bilhões, em março.
Mas ainda existem falhas terminais nas comunicações digitais 2D. A realidade virtual oferece uma alternativa atraente às videochamadas, permitindo que as pessoas sintam que estão no mesmo espaço juntas – uma vitória clara para o meio ambiente e uma melhor utilização do tempo. Embora a VR ainda esteja se esforçado para se tornar popular devido às barreiras de custo dos fones de ouvido e às idiossincrasias técnicas associadas aos projetos virtuais, podemos aguardar uma ênfase nos programas de realidade virtual para ajudar em tudo, desde socialização até suporte à saúde mental.
Supondo que enfrentaremos no longo prazo um aumento acentuado no trabalho remoto, a Internet de alta velocidade e estável também será pré-requisito. A China já está alavancando o 5G para aplicativos de saúde e para monitorar a disseminação do coronavírus. Apesar da controvérsia sobre as consequências para a saúde das redes 5G (e, ironicamente, as teorias da conspiração culpando o 5G pelo coronavírus), o Covid-19 destaca a demanda potencial por mundos de telemedicina, videoconferência e realidade virtual, que exigirão uma atualização da Internet na escala 5G.
A China também está planejando um protocolo de internet mais sofisticado. Eles estão reinventando a experiência da Internet através da criação de uma nova Internet IP, substituindo a versão “anacrônica” do TCP / IP com o qual todos estamos familiarizados.
Ninguém sabe ao certo como será o mundo depois que a crise diminuir – mas provavelmente podemos esperar uma evolução acelerada de nossas convenções e ferramentas atuais como resultado. Para entender melhor os impactos da virtualização do ambiente de trabalho, entrevistamos a pesquisadora e consultora em inovação, liderança e metodologias ágeis, Maria Augusta Orofino.
Muito tem se falado sobre o novo normal. Quando se trata de etiqueta corporativa e comportamento profissional, você acha que a mudança do que consideramos normal também é necessária?
Orofino – Primeiro, temos que analisar o que é normal. Normal é uma convenção entre uma sociedade, varia de local para local, de país para país. São Paulo, por exemplo, já possuía uma etiqueta corporativa diferente de Florianópolis. A localização geográfica altera o comportamento. Se formos para o interior, o modus operandi profissional quase que se une ao pessoal. Isso ocorre porque há um diferente contexto social: o dono do comércio é também pai de um aluno de determinada escola e, dessa forma, carreira e vida familiar se cruzam.
Hoje, no mundo pós-normal, essa etiqueta corporativa sofreu interferências devido ao regime de home office. Além de profissionais, exercemos em casa o papel de pai, mãe, educador, cuidador. E isso requer empatia.
A aparência formal foi uma das primeiras coisas a deixar de ser uma exigência. Haja visto todas as web conferências e reuniões em que os funcionários estão vestidos de maneira casual, por razões óbvias. Isso pode ser visto, inclusive, na televisão, com jornalistas em vestimentas menos formais do que costumava ser. Podemos ver uma evolução nesse sentido, da essência do profissional se sobrepor à aparência.
Quanto tempo você acha que levará até que as pessoas se adequem à virtualização do mundo corporativo e aos novos desafios desse tipo de interação?
Orofino – Acredito que estaremos nos adaptando a essa nova dinâmica até dezembro deste ano. Escritórios pelo mundo vêm percebendo o trabalho remoto como uma possibilidade real e viável. Os profissionais têm considerado se manter em áreas mais afastadas, sem a necessidade de mudança para grandes centros urbanos; podendo até mesmo trabalhar para empresas estrangeiras.
Toda essa mudança levará a um remanejamento na infraestrutura de cidades pequenas, da telecomunicação aos leitos em hospitais, já que o contingente de pessoas que se manterão em suas cidades de origem tende a aumentar com esse novo cenário. O vale internet fará mais sentido que o vale transporte, por exemplo.
A pandemia mudou nossa maneira de trabalhar. E quem lutar contra esse movimento, ficará para trás. Mas os benefícios são muitos. Haverá menos deslocamentos e uma consequente melhor qualidade de vida pois ganharemos tempo para nos dedicarmos a outras áreas que nos são caras. As empresas poderão também ampliar a gama e origem de seus colaboradores com a instauração do modelo remoto.
Enquanto ainda vivemos as incertezas do cenário de pandemia e a situação de quarentena, o que os funcionários e líderes já podem adotar na etiqueta de videoconferências e conversas em grupos corporativos?
Orofino – A primeira etiqueta fundamental nesse momento e enquanto durar o trabalho remoto é sair da visão de comando e controle, e adotar uma postura de empatia e confiança. A palavra confiança nunca foi tão importante. Os colaboradores não estarão mais vendendo seus dias de trabalho, mas prestando horas à serviço do trabalho em suas casas. Ou seja, não se pode mais ambicionar o controle de presença, há que se visar a entrega efetivamente.
Não se pode mais exigir e determinar o melhor momento para que uma reunião ocorra, o recomendado agora é adotar um processo de consulta prévia e sugestão de horário para que ocorra da melhor maneira para todos os envolvidos. A flexibilização de dress code e da agenda são fatores muito importantes e que devem ser considerados o quanto antes pelas empresas.