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Minimalismo e as oportunidades do isolamento

por:

ithsm

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O que Thoreau diria sobre o momento em que estamos passando? Difícil saber. Porém, me arrisco a dizer que ele nos provocaria com a seguinte ideia: “Aproveitem o isolamento para reinventar-se.”

Henri David Thoreau, de maneira intencional, isolou-se durante dois anos e dois meses da sociedade para viver um experimento social de simplicidade voluntária. No dia 04 de julho de 1845, mudou-se para uma cabana que construiu com a ajuda de alguns amigos, à beira do Lago Walden (Concord, Massachusetts, EUA).

A experiência de Thoreau, um dos filósofos americanos mais influentes, rendeu o clássico livro Walden ou Vida nos Bosques, lançado em 1854. O autor inspirou incontáveis pessoas a evitarem o que ele chamou de uma vida de “desespero silencioso”. Thoreau nos encoraja a simplificarmos nossas vidas para darmos valor ao que realmente importa.

Walden representa dezenas de reflexões que servem como base para um estilo de vida que tem crescido nas últimas décadas: o estilo de vida minimalista. O minimalismo nos leva definir o que é essencial e reduzir tudo aquilo que nos afasta de uma vida com mais significado.

Sei que o que ocasionou o isolamento representa uma situação adversa da vida. Apesar de estarmos vivendo um “isolamento forçado”, temos uma oportunidade ímpar para extrair lições que, sem o isolamento, talvez nunca parássemos para refletir.

As oportunidades do isolamento – Mesmo que de maneira involuntária, a pausa foi necessária. Mesmo com os efeitos negativos, perdas e dores irreparáveis causados pela crise do novo coronavírus, faço um convite para encontrar algo de positivo para o seu crescimento pessoal.

Autoconhecimento:
Para quem quiser aproveitar, a quarentena abriu as janelas da autorreflexão e do autoconhecimento. A vida corrida foi interrompida e nos ofereceu tempo para pensar. O isolamento se tornou uma grande oportunidade de mudança. Veja como Thoreau percebia o isolamento.

“Acredito que seja possível para o ser humano viver isolado, pelo menos por algum tempo, na liberdade de suas ideias, na inquietude de seus pensamentos, no embalo de seus sonhos. Com o pensamento, podemos fazer companhia para nós mesmos de uma forma sã.” – Thoreau

Creio que a autorreflexão já está gerando profundas mudanças, ainda que invisíveis e inconscientes no tecido social. Acredito que o que está sendo chamado de Novo Normal impactará positivamente a mudança de visão de mundo de muitas pessoas que se entregarem ao autoconhecimento.

Aprendizagem:
É tempo de aprendizagem. Partindo do conceito de Lifelong Learning – Aprendizagem ao longo da vida, tudo nos ensina. Todas as experiências sociais que quebraram a nossa rotina geraram a necessidade de aprendermos muitas coisas. Vejamos algumas:
– Aprender a usar novas tecnologias de interação social para se comunicar.
– Aprender com cursos online.
– Aprender com leitura, filmes e séries.
– Aprender com as crianças, durante a tarefa de dar suporte ao estudo à distância.
– Aprender a trabalhar remotamente, lidando com os desafios e ensinamentos do home-office.
– Aprender com a crise e com os noticiários que nos ensinam questões de saúde sanitária e convivência social.
– Aprender a lidar com as emoções do dia a dia pela mudança de rotina.

Convivência familiar:
O ritmo de vida acelerado do mundo moderno proporcionava um constante sentimento de culpa nas relações familiares. Muitos se cobravam pela falta de tempo para dar atenção aos filhos e a falta de atenção à família. Enfim, uma grande oportunidade foi dada. Mesmo que o contexto não tenha sido favorável, muitos começaram a ter muito mais tempo do que antes para uma reaproximação familiar.

O confinamento aproximou cônjuges, irmãos, pais e filhos conhecendo melhor um ao outro. Sabemos um pouco mais sobre os desafios de cada um, aumentando o grau de empatia, compaixão e solidariedade familiar. Sim, reconhecemos que muitos momentos de tensão e conflitos podem ter ocorrido. Porém, como resultado, aqueles que superarem esses momentos, sairão da crise mais maduros e mais próximos. No final, a convivência familiar reunirá o que estava separado.

Trabalho home-office
O verdadeiro teste em massa que a população experimentou foi em relação ao trabalho home-office. Empregadores, empreendedores autônomos, professores e diversas profissões puderam experimentar esse modelo de trabalho e identificar na prática quais são os desafios e os benefícios. É óbvio, que o ambiente de teste não está sendo o ideal. Contudo, o lado positivo é conseguir enxergar as oportunidades mesmo diante de todas as objeções. O modelo home-office testado em um ambiente “normal”, não teria uma série de variáveis, como necessidade de dividir o espaço, a atenção e a rede wifi com outros familiares, por exemplo. Apesar das interferências, o saldo trará uma avaliação inédita para todos os envolvidos.

Foco no essencial e vendas online:
Muitos negócios tiveram que improvisar algum tipo de sistema de vendas online. Tiveram que aprender a usar novas tecnologias criando um novo canal de vendas. Acompanhei alguns noticiários em que o faturamento online de algumas lojas chegou a representar 20% do que era faturado antes pelos canais de venda tradicionais. Aqueles que sobrevirem à crise terão a oportunidade de aperfeiçoar o canal de vendas online enquanto adaptam o sistema de atendimento presencial conforme as exigências sanitárias. Esse será o Novo Normal que muitos terão que aprender a conviver por tempo indeterminado. Não haverá tempo para autopiedade, sejamos resilientes, firmes e ágeis para fazer o que precisa ser feito. Um canal de vendas online exigirá a revisão e o aperfeiçoamento de alguns processos integrados, como cobrança e logística por exemplo. Muito trabalho há de ser feito. A crise antecipou o que era tendência para realidade.

Todo ajuste, inovação e adaptação dos processos de negócio exigirão foco total no que é essencial, e olhos abertos para as oportunidades que toda crise apresenta. Muitos líderes, empreendedores e colaboradores terão algumas competências essenciais testadas.

Mudanças pessoais:
De alguma forma, se formos bem honestos, nós sabíamos que o estilo de vida que vivíamos era doentio e insustentável. Individualmente, talvez nos sentíssemos impotentes para questionar o status quo e realizar qualquer tipo de mudança. Estávamos presos a uma egrégora de pensamentos, valores e hábitos que ditavam como deveríamos sobreviver em um mundo veloz e competitivo.

A boa notícia é que estamos vivenciando um momento em que podemos questionar tudo. De forma forçada ou voluntária, temos a chance de nos reinventarmos. Reconheço que o grau de tensão emocional e incertezas pode nos sufocar e roubar de nós a possibilidade de enxergarmos com clareza o que precisamos mudar. Todavia, se desejamos mudar algo em nossas vidas, defendo que esse é o melhor momento.

Estamos diante de uma quebra de paradigma global que nos afetará para sempre como indivíduos e sociedade. Devemos repensar com urgência como o nosso estilo de vida e hábitos de consumo estão comprometendo os recursos naturais e o futuro desta e das próximas gerações.

De forma geral, a crise deixará o mundo mais pobre e escancarará a desigualdade social. O paradigma econômico fez com que metade da riqueza do mundo ficasse concentrada nas mãos de 1% da população mundial. Existe uma grande questão que começa a atormentar a sociedade e as organizações: com o empobrecimento mundial causado pelo novo coronavírus, o que será prioridade daqui para frente?

Acredito que padrões de qualidade de vida artificiais, baseados na indústria de produtos e serviços supérfluos serão naturalmente questionados. A substituição do trivial pelo vital impactará drasticamente os modelos de negócios que comercializam o que podemos considerar desnecessários em tempos de crise.

A pausa na vida pode estar levando as pessoas a fazerem perguntas que o ritmo frenético de antes não deixava espaço. E perguntar demais sempre foi uma ameaça ao status quo.

Se observarmos de forma atenta o que está nas entrelinhas do pensamento coletivo, podemos imaginar um conjunto de perguntas existenciais brotando na mente das pessoas:
– Quanto tempo demorará para voltarmos ao “normal”?
– Agora que perdi meu emprego, o que farei para sobreviver?
– Será que meu emprego irá durar?
– Será que a minha empresa irá fechar ou demitir?
– Como irei pagar as contas?
– Afinal, o que eu estava fazendo com a minha vida?
– Como será o mundo daqui pra frente?
– Como irei simplificar a minha vida?
– O que terei que cortar nos meus gastos?
– O que realmente importa na minha vida?
– O que fará sentido daqui pra frente?
– Como será o futuro da minha família?
– O que terei que sacrificar para simplificar minha vida?
– Quais mudanças precisarei fazer em mim?

As questões existenciais refletem o padrão e o momento de vida de cada um. Todavia, de forma geral, o pensamento coletivo está sendo regido pela ameaça eminente de um período prolongado de crise e adaptação. Thoreau, de forma consciente e deliberada, procurou viver de forma simples, conectado com a natureza e valorizando o que era essencial e significativo.

Infelizmente, para muitos, a simplificação da vida e a busca pelo essencial não será uma decisão deliberada e consciente, mas forçada pelas circunstâncias da crise. Ainda assim, tenho esperança que muitos possam, mesmo diante de uma situação forçada, aproveitarem a oportunidade do isolamento para tomarem decisões importantes e duradouras sobre como desejam viver o restante de suas vidas.

A simplicidade, para muitos não será uma opção, será uma condição de vida. Portanto, nada mais prudente do que buscar conhecimento sobre como viver de forma simples.

Uma chance para o minimalismo:
De alguma forma, a crise gerada pelo Covid-19 tem levado a sociedade a questionar e repensar os valores. Alguns entendem simplificar a vida como realizar corte de gastos, mas não é bem assim, é preciso dar um passo além dessa “simplificação condicionada”.

Para quem deseja simplificar a vida de forma mais consciente, recomendo que aprenda sobre o estilo de vida minimalista. O tema ainda é recente, mas já é possível encontrar bons livros, documentários, blogs e canais no Youtube com conteúdos que ensinam como começar no minimalismo.

Sou minimalista desde 2016. De lá para cá, realizei mudanças profundas na minha vida. Não existem regras, e o que serviu para a minha mudança, obviamente pode não servir para a sua, simplesmente porque somos diferentes.
O que posso afirmar por minha experiência pessoal é que os benefícios são diversos, entres eles, o principal é ter simplificado a minha vida antes da crise, o que me deixa mais tranquilo para passar por ela com menos estresse, podendo além disso, oferecer ajuda para quem está mais despreparado e com dificuldades.

Torço que, apesar da crise, você tome uma decisão consciente para simplificar sua vida e extrair boas lições deste período de isolamento.

Gianini Ferreira e facilitador de aprendizagem, consultor educacional, professor e coach. Autor dos livros Influência na Carreira, Mindset de Mudança e Mente Minimalista.

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