Quem não tem ouvido à exaustão a frase “É preciso sair da zona de conforto”? Antes que você decida que este é mais um chavão sem sentido, é bom conhecer um exemplo dos mais bem-sucedidos da gestão pelo desconforto. Foi a partir dessa premissa que o treinador Bob Bowman treinou Michael Phelps – e vamos combinar que se existe alguém bem-sucedido na vida, esta pessoa é o nadador norte-americano.
Em 2007, na final da prova de 200 metros medley individual do mundial de natação de Melbourne, na Austrália, os óculos do nadador Michael Phelps encheram de água. Ele não conseguia enxergar absolutamente nada. O que vocês acham que aconteceu?
Em inglês, há um ditado que diz que não há crescimento sem desconforto – algo como o famoso no pain, no gain. Uma das principais premissas do sistema de treinamento do técnico Bob Bowman que orienta Phelps desde 1996, quando ele tinha 11 anos de idade, é exatamente o desconforto. Como Phelps conta, “Bob organizava horários de treino, exercícios, práticas, o que quer que ele conseguisse pensar, em torno da ideia de ser desconfortável. Seu pensamento sempre era o de colocar seus nadadores em todo cenário possível. Bob queria medir não só como eu me sentia sob pressão, claro, porém, mais importante, como eu reagia sob pressão. Porque essa é a definição real de um campeão, alguém que consegue lidar com qualquer obstáculo que aparecer a sua frente e com qualquer situação em qualquer momento”.
Por isso, os óculos cheios d’água não foram um problema para Phelps em Melbourne. Por conta da filosofia desafiadora de Bowman, ele já tinha treinado muitas vezes no escuro, contando as braçadas, e sabia exatamente como dimensionar a piscina. O resultado? Foi medalha de ouro e recorde mundial na prova.
Michael Phelps nasceu para ser nadador. Ele é alto, tem uma envergadura de mais de 2 metros da ponta do dedo médio da mão direita à ponta do dedo médio da mão esquerda, o torso é maior do que as pernas (o que reduz o atrito com a água) e até as articulações dos tornozelos parecem ter sido feitas para o esporte: sua flexibilidade nos pés é tanta que ele consegue dobrá-los mais do que uma bailarina na ponta. Mas, sem o treinamento desconfortável, sua compleição física teria um efeito muito menor.
Pense em como acrescentar doses de desconforto ao seu dia, seja para seu desenvolvimento contínuo, seja para o aperfeiçoamento de seus subordinados e para a formação de novas lideranças da empresa, seja na educação dos seus filhos. Sair da zona de conforto é justamente isso: propor desafios a si próprio e aos outros, para que o cérebro encontre novos caminhos para resolver os problemas.