Imagine ser um prestigiado especialista em aumento de receita e produtividade com vasta experiência e repertório sobre o comportamento humano, ensinando líderes a exercitarem suas musculaturas psicológicas. Agora, imagine que da noite para o dia a sociedade, o mercado de trabalho e o próprio sistema econômico foram atropelados por uma pandemia.
Esse cenário, que mais parece um pesadelo, aconteceu com Carlos Aldan, que se deparou com o desafio de propor soluções a altos executivos enquanto era apresentado às novas problemáticas corporativas e humanas.
Membro do conselho consultivo da Harvard Business Review, EUA, Aldan é também antropólogo, sociólogo e cientista político, com carreira executiva no Brasil e no exterior em organizações como Bunge & Born, J&J e World Trade Center SP. Atualmente está à frente da empresa especialista em desenvolvimento de líderes e profissionais da linha de frente, assessment e coaching, Grupo Kronberg.
O CEO do Grupo Kronberg concedeu entrevista exclusiva ao nosso blog trazendo um panorama de sua experiência no lido com as transformações na mente, carreira e no emocional de profissionais do mundo todo.
Muitas lideranças estavam acostumadas a controlar engajamento e clima organizacional nas janelas entre reuniões, na conversa do cafezinho, podendo sentir mais de perto os anseios e angústias das equipes. Com o home office, como você sugere que os líderes mantenham essa proximidade saudável dos colaboradores?
Penso que muita gente já começa a sentir falta do trabalho presencial. Tanto o trabalho remoto quanto o presencial possuem vantagens e desvantagens, mas negar nossa biologia não é muito inteligente. Somos seres hipersociais, ansiamos por estima e pertencimento. O desengajamento já era um sério problema antes da pandemia, girava em torno de 70% a 80% aqui e no resto do mundo. Se promover um ambiente de trabalho conducente à automotivação e engajamento já era difícil presencialmente, imagine à distância! É muito provável que, com o tratamento e vacinas contra o novo coronavírus à disposição, o modelo híbrido seja a solução que nos permita ter o melhor dos dois mundos – o ganho de produtividade com a redução do deslocamento geográfico e convivência maior com a família, no trabalho remoto; sem abrir mão das condições adequadas para fortalecimento da cultura das empresas, sensação de pertencimento, engajamento e o prazer da convivência com colegas de trabalho.
Enquanto o trabalho remoto for a principal opção, os líderes precisarão, além de promover o autocuidado, oferecer apoio emocional à organização. As pessoas vêm experimentando essa pandemia de maneiras muito distintas. A empatia é fundamental para o líder distinguir diferenças e similaridades na forma como seus liderados enfrentam esse momento, e para que possa auxiliar na resposta apropriada a cada colaborador. As pessoas precisam, mais do que nunca, sentir que seu líder e a empresa realmente se preocupam com elas. O líder precisa ser a principal fonte de informações sobre como a empresa se posiciona na evolução dessa pandemia e estar presente diariamente, não só cobrando tarefas e resultados, mas demonstrando genuinamente que a saúde e bem-estar de seus colaboradores são importantes para sua liderança.
Você trabalha temas como inteligência emocional, ciência da positividade e a neurociência do aprendizado para favorecer indivíduos e empresas. A Kronberg traz inúmeras técnicas e abordagens para que os profissionais exercitem suas musculaturas psicológicas. Eu queria saber o que você recomenda para a descompressão dessas práticas. Existem técnicas que você acredita serem mais eficazes para a higiene mental?
Excelente pergunta. O que aprendemos com a neurociência, com a psicologia positiva e inteligência emocional é que se:
• dormimos sete horas por noite,
• temos, nutrimos e investimos em relacionamentos duradouros e significativos,
• detectamos um propósito, um sentido dominante de significado para nossa existência,
• demonstramos gratidão sempre para as pessoas que contribuíram e contribuem para com nossas vidas,
• contamos nossas bênçãos – prestamos atenção ao que temos de bom o invés de reclamar sobre o que não temos,
• perdoamos quem nos prejudicou,
Promovemos, como consequência, maior saúde mental e evitamos os transtornos que vêm assolando a humanidade muito antes da pandemia e que se exacerbam nestes últimos nove meses. O importante é a pessoa encontrar a atividade que lhe dá mais prazer, com a qual mais se identifica e ter a disciplina para implementá-las e mantê-las.
Como você teve a percepção de que classificar a inteligência emocional como um soft skill é um equívoco, enxergando nela uma habilidade que depende de conhecimento científico para ser aperfeiçoada?
Até a chamada revolução científica, o rigor científico, as regras de lógica e dedução eram vistas como secundárias à intuição e emoção. Com a revolução científica, os conhecimentos só eram considerados corretos depois de confirmados pela experiência e razão, daí que surgiu então o método experimental ou científico. A partir desse período, o pêndulo vai totalmente para o lado da razão e nascem aí os paradigmas equivocados sobre as emoções que levaram a maioria das pessoas a encará-las como processos inferiores, localizados na área subcortical (inferior) do cérebro, mas que, “felizmente”, está envolta por uma camada superior, nosso intelecto (área cortical do cérebro) que supostamente nos habilita a regular nossas emoções por meios racionais e coloca o Homo Sapiens no topo da cadeia alimentar.
Ao que tudo indica até aqui, os circuitos emocionais do cérebro possuem maior influência no córtex do que o inverso, ou seja, o estímulo emocional domina e controla nosso pensamento. Embora pensamentos possam facilmente provocar emoções com a ativação das amígdalas do cérebro, não somos muito eficazes na tentativa de desligar emoções (desativando as amígdalas). Não basta a pessoa dizer que não quer estar deprimida ou ansiosa e estas condições desaparecem.
Talvez um dia a natureza dessa conectividade no cérebro se altere e daí possamos reverter essa assimetria na relação entre pensamento e emoção.
Por enquanto, nossas emoções influenciam praticamente tudo em nossas vidas desde as pessoas que gostamos ou não gostamos, com quem nos casamos, quem deixamos, onde moramos, a carreira que escolhemos, os filmes, músicas e obras de arte.
Portanto, classificar a inteligência emocional como um soft skill, o que tem levado muita gente a desvalorizar sua importância, é um tremendo de um equívoco. Preferimos chamar a IE de Power Skill. E na realidade, não se trata de uma inteligência versus a outra, mas sim, da maravilhosa integração de ambas para promover melhores resultados na vida.
Como foi o desafio de criar soluções enquanto as novas questões corporativas e humanas ainda se apresentavam?
Nossas receitas caíram a zero no início de março desse ano! Tivemos que nos reinventar, fazer 12 meses em 5 meses. Partimos para a digitalização de nossos conteúdos, lançamos um Programa de Inteligência Emocional em parceria com a HSM, estamos lançando vários programas nos próximos meses: Mindfulness, Neurociência Aplicada a Venda e Atendimento a Clientes, Liderança Adaptativa e uma série intitulada Adaptive Leadership Series que é a nossa resposta para nossa base de clientes atuais e potenciais se adaptarem, inovarem e prosperarem no novo futuro de possibilidades.
Logo no início da pandemia, realizamos um webinar com o objetivo de compartilhar ferramentas validadas cientificamente que comprovadamente fortalecem nossa tolerância às incertezas e ambiguidades, nossa resiliência emocional e protegem nosso bem-estar de forma que possamos prosperar no novo futuro de possibilidades. De lá para cá, já foram cerca de noventa webinares para mais de dez mil pessoas como forma de contribuir com nossos clientes e amigos nesse momento tão desafiador.
Estamos otimistas com a construção de um mundo melhor, mais humano e saudável. Esse binômio mindful living, revenue solutions que representa o posicionamento da Kronberg, nunca teve tanta relevância como agora.
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