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HSM Expo Now: Pensamento sistêmico para cenários complexos, com Fritjot Capra

por:

Caroline Verre

Caroline Verre

Na terceira parte da HSM Expo Now, que já trouxe Don Miguel Ruiz e Jamais Cascio, tivemos o prazer de receber o físico e ambientalista austríaco Fritoj Capra.

Temos atravessado desafios enormes e acredito que nenhum dos problemas atuais pode ser análisado sozinho, tudo é conectado e interdependente. O coronavírus, por exemplo, deve ser visto como uma resposta biológica da Terra“. Desta maneira Fritjof iniciou a conversa. De acordo com ele, durante a pandemia do COVID19, pudemos ver que a justiça social já não é uma questão política, mas de vida ou morte da espécie humana. Para evitar que outras pandemias se alastrem, é essencial melhorar a situação de vida dos mais vulneráveis, com ações coletivas.

A busca implacável pelo crescimento perpétuo leva a um consumo exacerbado que, por consequência, leva ao desperdício, escassez de recursos, aumento da desigualdade econômica e, por fim, à crise climática que vivemos hoje. Capra acredita que, enquanto apenas uma parte do sistema crescer, a outra inevitavelmente entrará em declínio.

De acordo com o autor de “O Tao da Física (1975)”, o crescimento equilibrado e multifacetado é conhecido na biologia como crescimento qualitativo. “Precisamos qualificar o crescimento econômico ao invés de avaliar a economia em termos de medida de PIB. Se faz necessário distinguir crescimento bom e crescimento ruim. A mudança de um modelo de crescimento quantitativo para qualitativo começa, primeiramente, com o desenvolvimento de indicadores qualitativos de pobreza, saúde, equidade, educação, inclusão social e de ambiente. Nenhum deles pode ser reduzido a coeficiente monetário“, explica.

Durante os últimos 30 anos, Capra desenvolveu uma síntese desse novo entendimento da vida. Uma estrutura conceitual que integra 4 dimensões da vida: biológica, cognitiva, social e ecológica. Os resumos dessas estruturas se apresentam em seis best-sellers, tendo a síntese final no livro “A Visão Sistêmica da Vida (2014)”, em que o especialista em sustentabilidade oferece soluções radicais para os problemas do século 21.

Na ciência, esse tipo de pensamento é conhecido como pensamento sistêmico. Escolhi esse nome para o livro que traz minha síntese justamente por envolver um novo tipo de pensamento em termos de relacionamentos, padrões e contexto. No centro dessa mudança de paradigmas, encontramos uma mudança fundamental de metáforas: deixar de ver o mundo como uma máquina e passar a entendê-lo como uma rede. E, como todos sabem, o que constitui uma rede é um determinado padrão de relacionamentos. Nós temos um padrão de relacionamentos e, para entender as redes, é necessário pensarmos em termos de padrões e relacionamentos”, esclarece.

A visão sistêmica da vida tem implicações importantes para toda a atividade humana, inclusive construir comunidades mais sustentáveis. Desde 1990, o conceito de sustentabilidade vem sendo corrompido e tornado trivial ao ser utilizado sem o contexto ecológico adequado. Para Capra, uma comunidade sustentável não tem a ver com crescimento ou concorrência. O sustentável tem a ver com a teia da vida. Em outras palavras, uma sociedade sustentável é projetada de tal forma que honra e coopera com a habilidade humana de sustentar sua própria vida.

O próximo passo nessa busca é entender como a natureza mantém a vida. Em bilhões de anos de evolução, os ecossistemas da Terra evoluíram com certos princípios para sustentar a teia da vida. A sobrevivência da espécie humana depende de aprendizado ecológico. A alfabetização ecológica precisa se tornar uma habilidade crítica para políticos, lideres de negócios e profissionais em todas as esferas. E deve também ser a parte mais importante na educação escolar”, alerta.

De acordo com o fundador do Center for Ecoliteracy em Berkeley, Califórnia, que incentiva a educação para a sustentabilidade, os princípios da ecologia estão muito próximos e são muito correlacionados ao padrão simples de organização que permitiu que a natureza sustentasse a vida por todos esses anos. “Nenhum organismo individual consegue existir de forma isolada. Animais dependem da fotossíntese da planta. A planta depende do dióxido de carbono produzido pelos animais… Juntos, plantas, animais e microrganismos regulam toda a biosfera e mantêm as condições necessárias para que a vida exista. A sustentabilidade não é uma propriedade individual, mas de uma teia completa de relacionamentos, que sempre envolve toda a comunidade. A maneira de se sustentar a vida é construir e alimentar comunidades”, aponta.

Fritjof Capra traz uma solução sistêmica por excelência: se formos da agricultura industrial de larga escala, baseada em muitos produtos químicos, para uma agricultura regenerativa, de larga escala, reduziríamos a dependência energética, melhoraríamos a saúde publica e, por fim, aliviaríamos a questão climática.

Ao longo das últimas décadas, o aprendizado da sociedade civil levou a centenas de soluções sistêmicas. Incluindo propostas para remodelar a globalização econômica e reestruturar as organizações com propriedades regenerativas, não extrativistas. Meu último livro mesmo traz inúmeras possibilidades. Isso prova que não é uma questão de ser possível, mas de decisões políticas“.

Ainda segundo Capra, quando olhamos para a natureza, podemos observar a diversidade, a beleza das flores, animais, fungos, todos os organismos se diferem e cooperam, encontram formas de fazer parcerias. E, para ele, isso deveria ser feito também nas empresas. “Há dois valores-chave que precisamos compartilhar: dignidade humana e sustentabilidade ecológica.

Humanos de Negócios, não “homens de negócios”, com Rodrigo da Cunha.

Humanos de Negócios é um projeto fundado por Rodrigo da Cunha que conta histórias de homens e mulheres que estão (re)humanizando o capitalismo por meio de um livro, palestras e eventos em organizações. Ele é também fundador e CEO da ProfilePR, uma agência de relações públicas que conta histórias de marcas e pessoas que trabalham com sustentabilidade, impacto positivo e projetos regenerativos.

Primeiro embaixador do TED no Brasil, Cunha idealizou a rede +SocialGood, para a United Nations Foundation. Em um bate papo com a Diretora de Conteúdo da HSM, Poliana de Abreu, o executivo contou um pouco da sua visão sobre as possibilidades humanizadas do mundo corporativo.

Segundo o autor de “Como Fazer uma Empresa dar Certo em um País Incerto (2005)“, as organizações funcionam meramente como parte de um ecossistema enorme. Para ele, essa perspectiva nos ajuda a entender a complexidade dos problemas atuais.

“O conceito de wood wide web nos faz enxergar a floresta como um ecossistema extremamente complexo e interdependente. Uma árvore grande é apenas parte do sistema, mas é fundamental para regular a troca de nutrientes entre árvores menores, fungos e diversos outros organismos que dependem dela. Com organizações é a mesma coisa. Consultores, colaboradores, clientes e muitas outras pessoas são impactadas no ecossistema corporativo“, explica.

As condições técnicas, tecnológicas, analíticas para promover a transformação que o mundo precisa para se manter sustentável, mas será que temos a capacidade ética e moral? A vontade política, para Cunha, precisa surgir de um líder. “Essa liderança não precisa partir do dono da empresa, do CEO, pode vir de qualquer área que queira tomar essa frente. As maiores empresas estão focadas em criar espaços para que projetos nesse sentido surjam sem a necessidade de comitês executivos. Existem laboratórios de inovação que permitem que as organizações proponham solução globais e isso deve ser simples assim”.

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