O avanço da vacinação no mundo, a volta às aulas escolares, a abertura mais ampla do comércio e serviços nos colocam novamente em um novo lugar. Depois de 16 meses de pandemia, ventos mais serenos de “liberdade” parecem começar a soprar no Brasil e no mundo.
As perspectivas começam a mudar e, com isso, tudo muda.
Em minhas conversas, a pergunta latente é “o que vai vir pela frente?”. No mundo executivo, nos adaptamos rapidamente ao home office “forçado”. A tendência do trabalho remoto que emergia antes da pandemia de Covid-19 tomou a realidade de sopetão. Aqui na everis, as telas rapidamente incluíram talentos regionais participando de suas casas, diretamente, de conversas estratégicas realizadas no epicentro paulistano. Todos num mesmo tamanho na tela. Não havia mais cabeceiras na mesa!
Podemos afirmar que conseguimos rapidamente enxergar os benefícios do home office: maior segurança dentro de casa, liberação de tempo gasto nos trajetos de ir e vir para outras atividades e, para muitos, maior produtividade no trabalho ou mais tempo de convívio com a família.
Mergulhados na tragédia humana que o planeta vive, em teoria, tivemos tempo para pensar, para refletir sobre nossas vidas e, inevitavelmente, experimentamos um dia-a-dia diferente nos últimos meses.
E o curioso é que “voltar” simplesmente parece não ser possível, já que o que era deixou de existir, ao menos mentalmente. Para entender concretamente para onde iremos nos próximos meses, fizemos na everis uma pesquisa com os colaboradores. O desejo de falar sobre isso é enorme, foram 2640 respostas espontâneas dadas a essa conversa que precisa acontecer antes do “retorno”.
Recomendo fortemente isso a todos os gestores, independentemente do tamanho da equipe. Ouvir suas equipes antes de tomar decisões.
Precisamos ser capazes de pensar em novos modelos de novo. E para isso, é fundamental fazer novos acordos, a partir das novas perspectivas. Complexo, é fato. Como sempre, construir um contexto confortável para todos dará muito trabalho e não poderá ser feito de uma só vez [ como foi a entrada do home office ].
Na paralela de dados que revelam uma imensa satisfação com o home office [ 75% das respostas ], dediquei-me a ler os 2640 comentários pessoais dados por cada um dos colaboradores. Afinal, gerir para 75% das pessoas pode ser não ouvir 25% do time. É na atenção à singularidade das respostas escritas que eu pude entender muito mais do que se passa com o microcosmos da everis [ nem tão micro assim ] e que talvez reflita a realidade de outras tantas empresas de tecnologia no Brasil e no mundo.
Nesse momento, metade do time ainda não se sente seguro para voltar às atividades no escritório. Oitenta por cento dos respondentes consideram a sua produtividade melhor em home office do que no passado. Colocando outras peças nesse tabuleiro, lembrei que antes da pandemia, cerca de 25% dos colaboradores da everis já trabalhavam remotamente, em centros de serviços [ poucos em home office ].
O maior desafio sempre foi realmente integrar quem estava presencialmente com a parte do time que estava à distância. Durante a pandemia ficaram todos remotos. Ou seja, todos iguais. Será que vem daí parte do aumento da produtividade? Será que vamos perdê-la com outros modelos pós-pandemia?
E esse será o maior desafio dos gestores agora. Como conciliar essa “nova vida vivida” com as novas demandas presenciais? Como fazer com que a presença não afaste das decisões de cafezinho, novamente, os profissionais instalados nos quatro cantos do País e em todas as curvas do planeta?
Seremos todos desafiados novamente agora. Já cansados de todos os meses e todo o estresse que a pandemia inevitavelmente causou. Como em uma disputa de uma final, agora é fundamental colocarmos em jogo aquele fôlego extra que nem sabíamos que tínhamos para dar. Especialmente os gestores. Precisaremos ouvir essas milhares de vozes que formam as companhias, entender suas motivações com novas e múltiplas soluções para a realidade cada vez mais complexa.
Não há manual para o novo formato híbrido. Referencias globais podem não valer, dada a cultura local. Precisamos começar a testar as soluções que viabilizem o bem estar das pessoas e a produtividade das empresas no atendimento a seus clientes.
Nunca foi tão importante estarmos preparados para a transição. Inevitável lembrar novamente do inspirador livro “100 year life”, que tanto fala sobre isso. O novo de novo. O incerto. Vai ser necessária muita maturidade para olhar para essa nova realidade, evitando a polarização entre o “home office” e o “presencial”.
Na transição, é fundamental estarmos abertos ao caminho do inexplorado.
É hora de ter coragem e colocar o “bode na sala” para depois começar a agir.
Ricardo Neves é CEO da everis Brasil, consultoria multinacional de negócios e TI do Grupo NTT Data