Muito se fala do abismo cultural entre grandes corporações e startups e em como criar pontes entre elas. Vários artigos e metodologias fazem referências a analogias, como: dinossauros vs. unicórnios; transatlânticos vs. botes; processos burocráticos vs. agilidade e mitigação do risco vs. cultura do erro.
Trabalhando diariamente com inovação aberta e projetos de sensibilização e cultura corporativas tanto quanto com educação empreendedora e mentoria de fundadores e CEOs de startups, não se pode negar que estas diferenças realmente existem e devem ser trabalhadas em ambos os lados se o intuito é a co-criação ou desenvolvimento de modelos de negócios benéficos para todos.
Gostaria de falar hoje sobre o que pouco se escreve e se escuta do “copo meio cheio”. Afinal, o que as grandes corporações e startups têm em comum?
1- Foco em inovação:
Todas as grandes corporações, atualmente, estão focadas em construir uma estratégia de inovação. O nível de maturidade, eficácia e permeabilidade organizacional dos programas nestas estratégias pode variar, porém este foco está no topo da lista de todos os CEOs e executivos na construção dos seus 3-years business plans. Posso apostar na inexistência de ciclos estratégicos 2020 que não irão englobar as palavras digital, inovação e disrupção.
Ambas, corporações e startups, possuem este foco. A diferença está na execução. As corporações possuem recursos e fontes sustentáveis de receita, no presente. E com isso uma linha de tempo para execução e transformação. As startups não têm recursos nem fontes sustentáveis de receita para manter o seu ritmo acelerado de crescimento. Por isso a fúnebre – porém real – iminência de morte cria a urgência e o absolutismo da inovação.
2- Foco em resultados:
Gestão por objetivos, métricas de desempenho, cultura de resultados, remuneração variável. Chamem-se eles KPIs ou OKRs. Sejam eles métricas de conversão dos inside sales e SDR´s nas startups ou triggers de qualidade de entrega de projetos no corporativo. Todos têm. Todavia no âmbito organizacional os processos, terminologias e métricas diferem. No corporativo são conhecidos como: TCV, receita vs. margem IBTDA. Já nas startups levam os nomes: MRR/ARR, CAC vs. LTV, valoração.
3- Foco em talentos
Organizações são organismos vivos. Sejam elas nascentes, PME ou gigantes. Todas são compostas por gente. E, não a soma, mas a complementaridade, diversidade e nível motivacional “dessa gente” que propulsiona ou freia qualquer estratégia ou resultado. Como diria o famoso Peter Druker: “Culture eats strategy for breakfast” (A cultura come a estratégia de café da manhã).
É através dos talentos e da capacidade de comunicação da visão dos líderes que as empresas prosperam. Este entendimento e o foco em criar uma cultura que fomente o propósito e a visão da empresa são base, igualmente, para corporações e startups. Diferenças, e grandes existem sim, em modelos de negócios, processos e culturas. No entanto bases em comum existem também.
O desafio do momento já não é mais levantar a bandeira da inovação aberta, criar um lab, alocar um squad no WeWork, lançar programas de seleção de startups. As pontes já existem e estão bem mapeadas. O desafio agora é o que acontece depois disso… e em como estamos usando estas bases para ancorar as pontes e co-criar estes novos horizontes.