[vc_row][vc_column][vc_column_text]Fonte: Agência Estado (São Paulo, 03/06/2016)
O retorno dos estrangeiros ao mercado financeiro do Brasil depende de medidas concretas de ajuste econômico e de uma solução definitiva para a crise econômica nacional, afirmou o professor de finanças da Universidade de Nova York (NYU) Aswath Damodaran. Para o especialista, prevalece um tom de cautela entre os investidores, que restringem a exposição ao País. Apesar disso, ele entende que o mercado de ações nacional possui potencial de ganho, principalmente no setor de consumo.
“No momento, as palavras dos políticos pouco importam para os investidores (estrangeiros). Houve tanto falatório que eles pararam de ouvir”, afirmou o economista ao Broadcast em entrevista por telefone. “O mercado está esperando para ver medidas concretas. É com base nisso que o Brasil será avaliado”, acrescentou Damodaran, que participa de evento em São Paulo em meados deste mês.
Por enquanto, a agenda econômica do presidente em exercício Michel Temer (PMDB) tem entre as prioridades uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para criar um teto para o crescimento dos gastos públicos. No entanto, a medida, assim como outros esforços do peemedebista, precisa passar pelo crivo do Congresso, tornando ainda mais essencial a relação de apoio entre o Legislativo e o Executivo.
Para o economista, a deterioração do cenário nacional é fundamentalmente um problema político que está se refletindo no lado econômico. “Os problemas políticos levam mais tempo para serem resolvidos e a solução lógica nem sempre é a solução adotada. É simplesmente política”, afirmou Damodaran, ao indicar que a tomada de decisões é influenciada pelo ciclo eleitoral.
A desconfiança do mercado, diante do imbróglio político, também incide na perenidade da gestão de Michel Temer. O peemedebista assumiu a presidência com o afastamento de Dilma Rousseff (PT) em meio ao processo de impeachment da petista. O compasso de espera do mercado deve permanecer, pelo menos, até a conclusão do impeachment, nos próximos meses.
“Os investidores sabem que o governo em exercício agora pode não ser de longo prazo”, afirmou o especialista. “O mercado quer ver medidas ousadas, que possam perdurar, mas isso só pode ser conseguido em um governo com um mandato”, acrescentou.
Do lado externo, um ponto de alerta para a economia brasileira diz respeito ao enfraquecimento da China. Para o Damodaran, muitas empresas são dependentes do país asiático e, embora ainda esteja crescendo, a economia chinesa tem poucos indicadores confiáveis. “Não se sabe o que está acontecendo”, afirmou. “Só entendemos a realidade dois anos depois do fato. Ficamos sabendo da realidade a partir do relato de companhias europeias, brasileiras e americanas, porque dados oficiais não são confiáveis”, acrescentou.
“Eu observo a receita e os ganhos das companhias que estão expostas ou investiram na China. Isso (a saúde dessas empresas) é o ‘canário na mina de carvão’ (ou seja, um indicador de perigo) e poderá mostrar que os problemas estão vindo”, disse o economista. Para Damodaran, um pouso forçado no país asiático é possível, mas, caso concretizado, o impacto terá de ser enfrentado globalmente. “Não existe mais um porto seguro na economia mundial”, acrescentou.
Empresas
Na avaliação de Aswath Damodaran, quando o apetite estrangeiro voltar ao País, um dos focos no mercado de ações deve ser o setor de consumo, incluindo cosméticos e farmacêuticos, como Natura e Ambev. Para ele, o interesse em consumo deve superar o do setor de recursos naturais, como Petrobras e Vale.
O caso da estatal de petróleo depende também de uma retomada de confiança, uma vez que a empresa tem sido vista como uma extensão do governo no que se refere a políticas públicas, como controle de preços através de valores de combustíveis. “Não dá para ter uma empresa de capital aberto no qual há dúvidas sobre o objetivo de medidas, se elas são voltadas para acionistas ou para o governo”, afirmou.
Para o economista, o problema fundamental da Petrobras é o nível excessivo de endividamento e distribuição elevada de dividendos. A solução é vender ativos, cortar dividendos e ajustar preços de combustíveis, o que exige um grau de separação das intenções do governo. “O problema é que tem de fazer tudo e nenhuma dessas ações será fácil”, apontou.
O momento atual pode ser favorável para a estatal se ajustar, pois o preço do petróleo está tão baixo que “as dores” de tirar o controle sobre os preços de combustíveis são menores do que quando estava em US$ 100 por barril. Caso essa reformulação aconteça, a expectativa também é de melhora da percepção estrangeira sobre o setor corporativo em geral do Brasil.
“Muitos estrangeiros investem no Brasil como se fosse num grande borrão e assumem que todas as empresas são como a Petrobras. Foi isso que tornou a crise da empresa tão prejudicial”, afirmou. “Mas as coisas nunca são tão ruins quanto parecem, nem tão boas. Às vezes, o País passa por um momento difícil e pode ter alguns retrocessos. Mas isso também vai passar”, concluiu (Lucas Hirata).
Nota do Editor: O mestre das finanças e da avaliação corporativa Aswath Damodaran está à frente da Master Class que acontece nos dias 13 e 14 de junho em São Paulo. Damodaran é professor na Stern School of Business, da New York University. Para saber mais sobre o evento clique aqui.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]