Passou o tempo de discutir e relativizar o problema ambiental que o impacto da produção industrial causa no mundo. Na história, a humanidade, em 3 milhões de anos, nunca passamos de 2 graus celsius e as projeções não são otimistas.
Grande parte deste problema, a nível global, se deve à queima de combustíveis fósseis e o desmatamento colonizador europeu-estadunidense nas regiões de florestas nos últimos 500 anos.
Marina Cançado, especialista em impacto de ESG nos negócios, trouxe essas compreensões da realidade para o Sest Senat Summit 2023, na tentativa de alertar os principais players dos transportes brasileiros e convidá-los a pensar sobre o assunto, visando criar soluções para estes problemas que iremos enfrentar nos próximos anos.
Afinal, no Brasil, o setor de transporte é o terceiro maior responsável pelas emissões de gás carbônico na atmosfera. Ao mesmo tempo, por conta da constante luta que lidera a preservação das nossas terras, outra maneira de lidar com as florestas e a continentalidade do país, ainda podemos ser parte extremamente importante da solução mundial.
Soluções de descarbonização
Segundo a especialista, o Brasil lidera globalmente a competitividade em hidrogênio e é uma das principais apostas para descarbonizar transporte de carga pesada e aviação.
Como Pedro Fogolin, Executive Partner da Gartner, nos atentou em sua palestra “Hype cycle dos serviços no transporte”, o Brasil é líder na produção de hidrogênio azul.
Diferente do hidrogênio verde, que é totalmente renovável, o componente de azul oferece uma solução parcial do problema. Ele vem da produção de etanol, que ainda é uma produção de combustão, mas pode ser reaproveitado neste momento.
Não se tornou uma principal solução por conta do processo. Quando a troca iônica é feita, para garantir o hidrogênio azul, se usa platina e paladium, dois elementos raros. Com o tempo, caso construa várias células de produção, o preço destes materiais irá subir e o material acabará faltando.
Hoje há uma maior rede de pesquisas para encontrar esta alternativa. Enquanto isso, o Executive Partner da Gartner destacou que esta pesquisa “se mantém estacionada no Vale da Desiluão”, do Hype cycle.
Outro ponto trazido por Marina Cançado é concentrar na Maior inserção dos biocombustíveis. Embora seja orgulho nacional, o uso dos biocombustíveis na vida cotidiana ainda é insuficiente. Alternativas que ainda são garantidas é utilizar Gás Natural, ao mesmo tempo em que passamos a investir em eficiência energética.
Na prática: por onde começar?
Marina Cançado trouxe vários pontos de convergência, interesse e também cuidados em sua palestra. Há uma gama de questões que estão em jogo, desde às pressões pela demanda e até o modelo de uso de transportes que o país adotou.
Por isso, a especialista retornou em alguns pontos e fez questão de trazer ordenamento para que seja possível fazer deste tipo de preocupação a agenda das empresas de transporte no Brasil.
1º passo: iniciar por onde é possível.
É crucial reconhecer que há áreas de produção que não são sustentáveis. O transporte de cargas, por exemplo, se utilizará de combustíveis fósseis para gerar energia até que uma nova tecnologia seja solução.
A aviação ainda aguarda alguns processos de eletrificação e placas solares. Então, haverá setores que encontrarão lento desenvolvimento. Por isso, o interessante é mapear e entender por onde podemos começar esta transição de descarbonização.
2º passo: comunicar os seus desafios e resultados a todo o mercado.
Um difícil tópico, que Ram Rajagopal já mencionou em sua fala, é encontrar modos de cooperação e ações conjuntas no cenário do transporte nacional.
Por conta da continentalidade e ordenamento produtivo, segundo Marina Cançado, precisamos entender que os desafios são parecidos e os problemas enfrentados ocorrem em diferentes empresas, simultaneamente.
Por isso, ao agir com essa agenda coletiva, é necessário também destacar pontos em comum para que haja um desenvolvimento conjunto das ações de ESG. Não é hora de acreditarmos em soluções individuais.
3º passo: visão dos stakeholders
No último passo, para o início da criação de uma agenda ESG, é importante reconhecer que a governança faz parte do processo, porém, seu alinhamento precisa ser lido antes da tomada de decisão.
Há uma necessidade de compreender para onde as diretrizes estão sendo coordenadas. Enquanto os interesses estiverem limitados às visões de quem detém ações das empresas, o impacto social e ambiental continuará sendo negativo para a sociedade.
É necessário mudar esta visão de mundo e passar a reconhecer que o ESG se trata de inserir, de uma maneira benéfica, questões coletivas e que estão atreladas à nossa sobrevivência como sociedade.
Pontos cruciais nesta empreitada
Marina Cançado destacou em sua palestra a necessidade de ter um olhar financeiro para soluções climáticas. Se trata de compreender que há um valuation nessa construção e que ele pode se tornar uma maneira de medir tamanha jornada e esforço das empresas nesta agenda.
Mostrar que a sua empresa está nesta jornada pode ser usado para conseguir melhores taxas de crédito, melhorar a sua reputação, entre outros benefícios relacionados ao trabalho e o ambiente de trabalho aos seus colaboradores