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O Design Thinking precisa abrir espaço ao Design Feeling

por:

ithsm

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Há muitos anos – pelo menos 20 – que falo aos quatro ventos sobre como o design é uma lente poderosa na construção de um futuro desejável.

Isso por ter aprendido lá atrás, na PUC, com minha querida guru Ana Branco, que mais do que desenhar objetos bonitos, alinhando forma e função, nosso papel como designer era catalisar conhecimento, costurar saberes e desenhar soluções que gerassem valor real na vida das pessoas. Sempre “com” e nunca “para” elas.

Aprendi que precisamos cultivar nossa curiosidade, nossa intuição, nosso olhar ingênuo e holístico para percebermos as brechas que deixam a inovação emergir. E, se tudo der certo, se for fruto de envolvimento verdadeiro com muita empatia e experimentação, poder de fato melhorar um pouquinho o mundo.

Esse era o jeito que o designer deveria pensar sua atuação e orientar sua abordagem. Isso era design thinking, muito antes de Stanford empacotar nossa prática projetual em metodologia de sucesso. E foi essa a visão que me mobilizou como aluno de design de 1985 a 1990 e que acabou forjando meu caminho como empreendedor.

A Tátil nasce ali, a partir do meu encantamento em olhar a natureza como fonte de inspiração para desenhar embalagens mais inteligentes e sustentáveis. Do interesse pelo eco design de Victor Papaneck e Buckminster Fuller Nasce na barraca da Ana – sala de aula com uma lona de paraquedas como teto e uma fogueira no meio.

As almofadas que ficavam sobre tablados de madeira eram sacos de juta recheadas de folhas. Mais hippie impossível. Foi radical e completamente mobilizador entender e sentir que aquilo tudo seria minha vida.

Quando há sete anos atrás fui convidado como o primeiro designer a fazer uma palestra na HSM Expo, palco reservado aos grandes gurus da inovação e da gestão, senti que seria uma grande oportunidade de provocar aquela plateia surreal de 4000 pessoas a enxergarem o design sobre essa ótica, ampliando o senso comum do bom design como sinônimo de cadeiras, carros e luminárias escandinavas em salões europeus. Confesso que tinha dificuldade de entender e até esnobava quem queria seguir colocando mais cadeiras no mundo.

No começo deste mês, no lançamento do Instituto Burle Marx, que nasce com uma identidade criada por nós com a enorme responsabilidade de traduzir a genialidade de um dos maiores artistas brasileiros, me dei conta de que chegou a hora de reativar, ou pelo menos buscar equilibrar o papel e o lugar do que é fazer bom design.

Designers devem seguir “thinking” com a lente processual e estratégica que pode mudar o mundo.

Mas, não menos importante, devem abrir muito espaço para o brilho criativo que emerge da estética, que cativa o olhar, que traz o prazer para o tato, que é puro feeling.

Somos bichos que precisam sentir, experimentar, que se engajam pelo desejo e não apenas pela razão. Mais do que nunca é hora de somarmos a força do Design Thinking com a poética do Design Feeling, transpiração com muita inspiração, pois só assim conseguiremos de fato, engajar as pessoas ao que interessa.

Este mês, mais uma vez no palco principal do HSM, comecei minha palestra resgatando o lugar do design que emociona e encanta e da onipresença “thinker” dos post its.

Mostrei que se quisermos mesmo encarar o enorme desafio criativo que temos pela frente como espécie, temos que somar conhecimentos, misturar saberes e pontos de vista, ética com estética.

Temos que pensar em soluções de baixo impacto ambiental mas alto impacto sensorial. Não um ou outro, nem um primeiro e o outro depois, pois só assim iremos promover mudanças de comportamento engajando as pessoas pelo desejo e não pela culpa. Exatamente como a natureza sempre fez.

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