Após dois anos apresentado virtualmente, o CONARH, um dos maiores eventos de gestão de pessoas do mundo, retoma o fôlego e volta a ser realizado de forma presencial. Os corredores lotados do evento não negam: a área de recursos humanos mantém a força em sua 48° edição, mais uma vez realizada em São Paulo. São milhares de pessoas – gestores de RH, executivos, consultores e especialistas da área – em busca de novas soluções no setor.
Se o período pandêmico trouxe grandes desafios para a área, o tema escolhido para este ano reforça a necessidade de crescimento e expansão: Pessoas, Gestão e Negócios – É hora de acolher e ampliar os horizontes. Neste tripé de sustentação corporativa, são apresentadas, ao longo dos três dias de evento, as tendências mais quentes e que permeiam as mais de trinta palestras – simultâneas e magnas – realizadas em sua programação, sendo algumas oferecidas no formato digital e incluindo participações internacionais.
Os temas mais quentes apresentados no evento têm apontado para a criação de futuros: Metaverso como possibilidade de conexão social, ESG como caminho para regeneração, desenvolvimento de cenários econômicos globais e futuros, incluindo a necessidade urgente de empresas mais humanizadas, líderes mais preparados e educação como ferramenta de crescimento.
O palestrante, darwinista digital, futurista e consultor da HSM Carlos Piazza foi um dos pontos altos do primeiro dia do evento, ao lado da psicóloga e treinadora Daniela Pelosi França, com quem dividiu o palco. Ao abordar o tema Tecnologia e Pessoas, o público foi provocado ao ser questionado sobre o papel da área de recursos humanos diante dos avanços tecnológicos.
Piazza questiona a relação entre tecnologia e pessoas problematiza o conceito de recursos humanos, uma vez que desconsidera os humanos como recursos. Para ele, esse é um formato que não faz mais sentido atualmente, pois as empresas seguem um modelo de trabalho oriundo da segunda revolução industrial, quando, na verdade, já estamos na quinta revolução.
Para Daniela, as pessoas precisam encontrar seu espaço em um contexto em que vida e carreira caminham juntas, já que a pandemia revelou a integralidade do ser humano em suas múltiplas tarefas. Ao estreitar as relações humanas ao mundo high tech, os palestrantes reforçam que a tecnologia não é uma finalidade em si, mas um meio para melhorar a vida humana. Neste sentido, exploram o paradoxo do algoritmo versus androritmo, ou seja, a habilidade humana da cognição, criatividade, capacidade de imaginar o futuro e ter diversidade de pensamento, pois a inteligência do futuro também encontra espaço no caos e no conflito: pessoas diferentes vêm de contextos diferentes e possuem bagagens culturais diferentes. Portanto, enxergam o mundo de formas diferentes. Nesta visão de trabalho, é preciso exercitar a inteligência do paradoxo, pois o futuro é cocriado por pessoas diferentes.
Para explicar esta visão de futuro, Piazza recorre ao deus Caos, da mitologia grega; para ele, é preciso viver na paz do caos e estar preparado para viver em um mundo caórdico. O caos não é uma possibilidade, mas sim uma realidade. Ao olhar para a gestão de pessoas, entende que não há mais espaço para a liderança baseada em comando e controle. Por isso, provoca os gestores de RH ao lembrar que as empresas deveriam desenvolver as capacidades humanas de criatividade, empatia e cognição, pois entende que muitos líderes ainda mantém uma rotina de trabalho baseada na execução, quando, na verdade, essa deveria ser uma tarefa das máquinas e não das pessoas. “É preciso preservar nas mãos das pessoas tudo aquilo que é das pessoas, e deixar as máquinas executarem o que é das máquinas”.
De fato, é hora de acolher e ampliar os horizontes, a gestão de pessoas precisa desenvolver a capacidade de criar os melhores futuros. Na esteira incansável do desenvolvimento humano nas organizações, é preciso escolher o que fica para trás e, acima de tudo, estar pronto para nunca estar pronto.
Marcelo Mantovani, especialista em Educação na HSM