Se você quer fazer algo bem feito, faça com atenção. Se você quer fazer algo muito bem feito – com alta performance – faça com total atenção. Esta simples frase é facilmente verificada em qualquer ação humana, seja na relação com um filho/cônjuge, seja na elaboração de uma planilha de excel, seja em um feedback ou em uma tomada de decisão na empresa. Centros de estudos sobre alta performance, como o Flow Genome Project, comprovam este fato, mostrando a atenção como um dos elementos para se entrar no fluxo, onde tudo acontece de forma otimizada.
Mindfulness, ou a importância da atenção plena, também une grandes expoentes do que chamo de cultura de alta performance, como Otto Scharmer (do MIT), Bill George (de Harvard) e Daniel Goleman (de muitos lugares), entre muitos outros. Entretanto, esta não é a realidade que verificamos na maioria das pessoas e, consequentemente, nas empresas. Uma conhecida pesquisa de Harvard, por exemplo, mostra que em boa parte do nosso tempo estamos agindo sem prestar atenção. Fazemos as coisas de forma mecanizada, no modo piloto automático, reagindo ao invés de agir, o que traz sérias consequências na nossa performance.
Para reverter essa realidade, é preciso treinar a atenção. Minha experiência de 25 anos me treinando e treinando outras pessoas em atenção aponta que a falta de hábito, o pensamento compulsivo, a crença de que todo pensamento é importante, a baixa autoconfiança, o senso de imediatismo e o excesso de estímulos (WhatsApp, Facebook, Instagram, e-mail, internet, etc.), entre outros motivos, tornam o desenvolvimento da atenção plena (ou Mindfulness) um grande desafio.
Entendo que o primeiro passo para ajudar a maioria das pessoas a ir além das dificuldades e vencer este desafio é o entendimento adequado do que acontece com a nossa mente e como o treino da atenção impacta positivamente nela e no nosso encéfalo (cérebro). Uma grande aliada é a neurociência – que estuda o sistema nervoso e se relaciona com diversas ciências, como a biologia, a psicologia, a medicina, a filosofia, etc. – que dá suporte a milhares de pesquisas científicas recentes e que mostram os benefícios objetivos de Mindfulness.
A palavra Mindfulness, além de significar um estado de atenção plena, também é usada para descrever diversos tipos de técnicas que desenvolvem atenção. Explicando de uma maneira muito simplificada, estas técnicas estimulam o córtex pré-frontal – que é a parte da frente do nosso cérebro e onde acontecem processos como planejamento, tomada de decisão e foco – e nos permitem não nos perdermos nos pensamentos que ativam a nossa amígdala cerebral, que faz parte do sistema límbico e controla as nossas emoções, geralmente gerando reações negativas e resistência aos desafios que enfrentamos. O grande diferencial e motivo de crescimento de Mindfulness está justamente em seu embasamento científico, mostrando inclusive as alterações físicas no cérebro (devido à neuroplasticidade) de quem faz práticas específicas.
Não é por acaso que centenas de grandes instituições e empresas, como Harvard, Stanford, UC Berkeley, Google, Facebook, Aetna, Goldman Sachs, Intel e outras tantas, já trabalham com Mindfulness. A aplicação da atenção total no ambiente empresarial implica diretamente na performance e traz diversos benefícios, como aumento da criatividade, produtividade, liderança positiva, relacionamentos harmoniosos, ética, aceitação de mudanças, bem-estar e satisfação com o trabalho. Mas, talvez o melhor dos benefícios de Mindfulness seja a capacidade de discernirmos a realidade, de separarmos o real do irreal – que é criado pela nossa mente compulsiva. No ambiente organizacional, isso significa utilizar os recursos reais, de forma otimizada, buscando benefícios efetivos. Em outras palavras, não gastar o tempo das pessoas com reuniões improdutivas, com disputas de poder, com falta de colaboração, com retrabalho, entre outros performance killers.
Mindfulness não se restringe às empresas. Ele tem sido estudado em praticamente todos os campos de conhecimento da vida humana, como na saúde, educação, esporte, relacionamento, etc.
Para você poder avaliar como anda a qualidade da sua atenção e, consequentemente, a sua necessidade de conhecer e treinar Mindfulness, observe o quanto você consegue se manter atento, sem se perder em distrações externas e internas (como os seus pensamentos). Por exemplo, se você, durante a leitura deste texto, ficou pensando a respeito de várias afirmações, com “diálogos/conversas internas”, este fato provavelmente ilustra uma baixa capacidade de manter a atenção e, portanto, a necessidade de treiná-la. Costumo mostrar que desenvolver Mindfulness é o mesmo que desenvolver uma metacompetência, pois ela dá suporte para o desenvolvimento de diversas outras competências fundamentais na nossa vida pessoal e profissional, já que todas dependem da nossa qualidade da atenção.
O entendimento cognitivo sobre Mindfulness é uma grande oportunidade e o primeiro passo para que se compreenda e se acredite em seu potencial, bem como para se eliminar preconceitos e ideias equivocadas, como em relação ao vínculo com uma religião específica ou à incapacidade que muitos acreditam ter em aquietar e concentrar a mente.
Entretanto, este entendimento apenas abre as portas para o segundo e mais importante passo, que é praticar, com regularidade. É preciso exercitar constantemente o seu cérebro para desenvolver o córtex pré-frontal, colher os benefícios desta prática tão poderosa e alcançar uma melhor performance. Além de ser mais feliz…
Eduardo Farah pesquisador de si mesmo, palestrante da HSM, doutor e professor da FGV (desde 2001), com 17 viagens à Índia e autor do livro “Mindfulness para uma vida melhor”, pela editora Sextante. Saiba mais em www.edufarah.com.br