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A necessidade de coragem criativa é urgente no mundo

por:

Caroline Verre

Caroline Verre

Por Patricia Cotton, fundadora do Upside Down Thinking, metodologia de reflexão profunda.

Jamais me esqueci da clássica cena do filme ‘Titanic’, em que os músicos da orquestra continuam tocando seus instrumentos enquanto o navio afunda. O mais intrigante é que – de acordo com relatos de sobreviventes – isso de fato ocorreu, e pode nos levar a pensar nos tempos atuais, em que o naufrágio das certezas paradigmáticas que nos trouxeram até aqui bate à porta. 

Estamos vivendo uma era de descompactação, em um mundo complexo e ansioso, com diversas mudanças ocorrendo em um curto espaço de tempo. As organizações tradicionais precisam revisitar a sua forma de pensar, atuar e planejar, ressignificando concorrência, cliente, colaborador, inovação e, acima de tudo, futuroE não é nada simples refrescar sistemas (e olhos) cansados que buscam previsibilidade, segurança e controle. O preço e o risco da renovação são altos, mas não fazê-la pode ser ainda mais custoso. 

Fica então a reflexão: qual é o modelo mental ideal para que a mudança e a inovação ocorram de forma autêntica, equilibrada e criativa para indivíduos e negócios? Como combater o poder da inércia, do hábito, da resistência, das respostas rápidas – e até mesmo do sucesso – para liderar equipes e negócios em tempos gasosos?

Como bem pontua o livro “A Coragem de Criar”, de Rollo May, “a necessidade de coragem criativa é proporcional ao grau de mudança do mundo”. O sucesso corporativo do século 21, portanto, provavelmente será baseado na construção de culturas organizacionais corajosas, que incentivem tanto o florescimento de ideias quanto a flexibilidade e resiliência para testá-las, apesar da incerteza e da insegurança.

A palavra coragem, por sinal, tem origem no latim ‘coraticum’, que significa ‘do coração’. Assim como este órgão é a base do funcionamento do corpo, a coragem pode ser considerada a base das demais virtudes psicológicas, que está relacionada à capacidade de enfrentar situações difíceis, perigosas ou desconfortáveis, mesmo diante do medo e da incerteza. 

De acordo com o livro de psicologia positiva “Character, Strengths and Virtues”, de Christopher Peterson e Martin E.P. Seligman, a coragem é uma força interna que se caracteriza por quatro virtudes principais: bravura, persistência, integridade e vitalidade. Trazendo esta força para o ambiente corporativo, torna-se evidente a necessidade da coragem  para expressar ideias originais e, mais importante, canalizar de forma efetiva a inquietude e aspiração para que seja possível materializá-las.  

Para isso, é preciso vencer o medo da reprovação e do fracasso, tanto individual quanto coletivo, desapegando-se de paradigmas obsoletos. “O cliente sempre tem razão”. “Não reinvente a roda”. “Tempo é dinheiro”. “Manda quem pode; obedece quem tem juízo”. “Temos que crescer e escalar o negócio”. Será?!

A coragem como ativo organizacional deve ser alicerçada tanto na gestão do medo quanto na intenção e disponibilidade para agir com responsabilidade. Para que os negócios se adaptem e sobrevivam, é preciso cultivar um ambiente que não retraia a coragem, e que estimule de forma contínua e consistente a sede de aprendizagem e a iniciativa para buscar novas perspectivas, considerando tanto as tendências emergentes quanto as contra-tendências, com um olhar inclusivo, curioso e holístico. 

Em suma, a coragem e a liberdade criativa são a base da inovação nos negócios, na arte e na ciência. O conformismo intelectual e social que assola nossas mentes devem ser combatidos com o acolhimento da autenticidade, abertura e gestão dos riscos. O show, apesar do exemplo dos músicos do Titanic, nem sempre deve continuar do mesmo jeito. Como diria Jung, viver é perigoso. E se não for, então nada aconteceu. 

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